Há razões, nem sempre evitáveis, para que um jovem se deixe seduzir pelo
uso de entorpecentes. Mas a família pode ajudar, e muito.
“Quem é feliz não usa drogas.” A tese, defendida pelo psiquiatra Içami
Tiba em seu novo livro, Juventude & Drogas – Anjos Caídos, mostra aos pais
que o perigo nem sempre vem de fora. Na maior parte das vezes, segundo o
especialista, ele se encontra dentro da pessoa que desenvolve o vício,
disfarçado de carências que, muitas vezes, pais poderiam suprir. Não existe
maneira de uma família se blindar contra a ameaça. Tiba, no entanto, acredita
que é possível desmistificar o problema. “É preciso exigir responsabilidades
dos filhos.
As drogas não seduzem tão facilmente as pessoas que são cobradas”, diz o
psiquiatra. Para Tiba, infelizmente os pais andam errando bastante na educação
dos filhos. Confundem amor com permissividade. Aquela que o psiquiatra chama de
‘geração asa e pescoço’ deseja dar aos rebentos só o ‘peito e a coxa’. Querem
fazer a compensação das necessidades que tiveram por meio das crianças. “Os
pais estão criando os filhos para que usem drogas”, polemiza.
Amar o filho incondicionalmente – e não só quando ele tira uma nota boa
na escola – é importante, mas não é suficiente. O que importa, para o psiquiatra,
é educar. Afinal, as dificuldades vividas pela ‘geração asa e pescoço’ também
os tornaram mais fortes para o mundo. Uma boa educação pode tornar a ameaça
menos provável, mas quem educa bem não pode se descuidar. Outras variáveis
estão envolvidas na sedução: circunstância, curiosidade, falta de auto-estima,
vontade de permanecer a um grupo. Longe da cocaína há um mês e meio, Fernando
Demarque, 26 anos, sempre considerou bom o relacionamento com a família. Acha
que seu primeiro contato com as drogas, aos 17 anos, foi motivado por
curiosidade e desejo de receber aprovação dos amigos. “Nunca me faltou amor”,
diz ele. Se o problema sempre encontra uma fresta pela qual pode se infiltrar,
o jeito é reconfigurar as relações familiares, para que os pais não sejam os
últimos a saber. Isso, segundo Tiba, é possível por meio da cidadania familiar.
Nesse conceito de organização doméstica, ninguém faz em casa o que não
pode fazer fora dela. Isolamento e solidãoMuitos pais acham que os transtornos
familiares chegam ao fim assim que conseguem alimentar e educar os filhos. Como
Tiba coloca em seu livro, mais do que falhas na educação, o consumo de drogas
pode refletir uma série de insatisfações existenciais do jovem. Professor do
departamento de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
Dartiu Xavier acredita que é o isolamento – e não as baladas noturnas – o sinal
mais comum de que um jovem se tornou um ‘anjo caído’. “Ele deixa de ter
amigos”, diz o psiquiatra. Xavier acredita que o tratamento do problema não
pode ser imposto ao adolescente e que a solução do problema passa por
estratégias que motivam o reconhecimento do vício.
Cooperação, para Tiba, é algo que um viciado em drogas não tem condições
de oferecer. “Ele não consegue pensar da maneira correta e isso é um sintoma da
própria doença provocada pelas drogas”, defende. A unanimidade entre os
especialistas é que os pais devem estar presentes durante o tratamento. A
melhor combinação para tratar o vício pode ter terapia, medicamentos e grupos
de ajuda mas, se incluir os pais, funciona melhor ainda.
Fonte: Içami Tiba
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